Dos espelhos.
Eu estava vestida com os trajes da peça e decidi ir ao banheiro antes de
começar a função.
O banheiro disponível ficava dentro de uma cafeteria, ou seja, várias
pessoas circulavam por ali. Chegando lá, fiquei esperando.
Olhei-me um instante no espelho e quando dei volta, enxerguei uma
criança bem pequenininha com os cabelinhos ondulados, soltos, com os olhinhos
cheios de encantamento.
Ela vinha à minha direção, com os bracinhos abertos...
Como se ela estivesse vendo algo mágico, fantástico!
Eu me fixei naqueles olhinhos
(meio que paralisada) e só consegui dizer: Oi!
No instante seguinte, outra menina mais velha a puxa bruscamente pelo
braço, antes que ela terminasse de chegar até mim...
A criancinha piscou os olhinhos
como quem é despertada bruscamente, me deu um meio sorriso e seguiu junto à
outra menina.
Acho que consegui devolver o
sorriso... Foi tudo tão rápido e tão significativo.
Fiquei ali um tempo com essa sensação de rever algo tão bonito e puro. Dei-me
conta que já fazia um tempo que eu não percebia de uma forma tão marcante, esses
olhinhos de deslumbramento, da inocência de uma criança, da magia, de estar
vendo algo fantástico...
Meu figurino “estrambólico” deve ter sido o grande responsável... Mas a “estranhada”
fui eu.
A menina mais velha me lembrou do que o tempo pode fazer com a gente: “pára
com isso menina, acorda!”. Por que não acordar (sim!) e seguir sonhando (sim!) também...
?
Um Sonho nos move, nos faz ir a uma
direção, mesmo depois de Acordar inúmeras vezes.
Essa inocência diante das coisas
dá um toque de mistério em tudo no mundo a nossa volta.
É necessário e essencial crescer
sim, mas não há necessidade de se abandonar a beleza de enxergar as coisas
desde um nível mais profundo da beleza, aquele que nos encanta, mesmo sem a
gente saber o porquê, mas que nos transporta a essa sensação da graça genuína,
mágica.
Talvez já tenhamos
a realidade
Pra nos
colocar no prumo (?)
E o que nos coloca em
direção ao que há de divino em nós?
Tá ai... Um pontinho pra arte.
Não, pontão!
* imagem: de Marc Chagall, grande sonhador acordado.
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